quinta-feira, 7 de julho de 2016

 Qual é o papel dos indivíduos na condução de suas vidas? Somos protagonistas?

Ao assistir o documentário “maio de 1968” percebe-se um questionamento: Por que maio? e vemos os entrevistados tentando explicar o porquê de um revolução que começa com uma simples vontade de estudantes da universidade de Nanterre de quebrarem os paradigmas de posturas conservadoras impostos nessa instituição que mantinha a divisão dos dormitórios entre pessoas de sexos opostos. Vale lembrar que aquela época era conhecida como “era da revolução sexual” e isso era uma bandeira defendida pelos estudantes, que viam as mudanças como códigos de comportamento que ditavam agora as tendências da juventude em se alinharem aos ideais da revolução sexual dos anos 60. Embora esses estudantes não terem conseguido tanto êxito, eles demonstraram uma importante mudança no comportamento social. Isso significou que naquele momento não nascia apenas uma revolução, mas também um novo papel social para os estudantes, que seria postergado para toda uma geração futura.  

Lutar com paus, pedras e coquetéis molotovs contra o sistema sem ao menos um objetivo bem definido, num mundo que passara por duas guerras mundiais e que acabava de assistir o desenrolar da guerra do Vietnã, por causa de uma proibição de acesso aos dormitórios de pessoas de sexo opostos parece ser bem insensato, mas se pensarmos que o regime não aceitava qualquer espécie de contestação, podemos enxergar o porquê do maio de 1968 ter tomado grande proporção e influenciar outros movimentos pelo mundo. A grande diferença é que os outros movimentos influenciados por esse foram mais objetivos em suas reivindicações e até hoje, estudantes de todo o mundo parecem sentirem-se agentes de mudanças e protagonistas da história que acabarão tendo a certeza que as escreverão para tentar tornar o mundo melhor para os que virão, e assim se tornarão defensores de uma sociedade justa solidária. Pessoas assim são condutoras de suas vidas.

De fato assistimos continuamente à muitas pessoas serem protagonistas de vários levantes e insurreições pelo mundo, sendo assim, estas são condutores de suas próprias vidas. Esse mecanismo de se levantar contra toda forma de opressão ocorre porque, quando nascemos, já pisamos num mundo “pronto para a nossa chegada”.

Percebe-se que em todo lugar do mundo há pessoas e dentre essas muitos são ainda muito jovens, que embora de culturas diferentes, têm naturalmente em comum o fato de serem contestadores dos valores sociais impostos antes de terem nascido e sempre estão pretendendo estabelecer novos valores numa sociedade que para os mesmos parece sempre atrasada e conservadora. Assim o que é certo ou errado depende muitas vezes da opinião de pessoas e em particular da juventude de cada geração, além dos valores a serem cobrados, uma vez que a sociedade é dinâmica, e pelo que vimos na história e na sociologia, os movimentos sociais e revolucionários foram os meios quem proporcionaram essas mudanças, onde uma geração após a outra sempre pareceram serem os algozes das regras sociais conservadoras.

Mas por que maio de 68? Para tentar responder essa pergunta seria de bom alvitre enumerar todos os acontecimentos ocorridos naquela época, para demonstrar que os anos 60 foram marcados por revoluções sociais econômicas e sociais que acabaram influenciando o pensamento de alguns atores sociais e dentre estes os estudantes, que passaram a reconhecer que sua união gerava uma força de grande intensidade.

 Inicialmente esse movimento de 68, que parece ter partido de um pequeno grupo de estudantes de sexo opostos na universidade de Nanterre, que queriam apenas terem o direito de frequentarem os dormitórios uns dos outros, tomou um rumo diferente e ao que tudo indicou, pareceu que ideais políticos trazidos por jovens militantes de partidos Maoístas, de esquerda e contra o partido de esquerda Lenista e contra o governo na França à época, acabaram injetando novos propósitos que somaram-se àqueles e incitaram mais os ânimos.

 Pesquisando percebemos que os anos 60 foram então muito agitado por mudanças ocorridas, uma após a outra, como na tecnologia, ciências, cultura, comunicações, guerras, conflitos e música  tais como: em 1960 ocorre a revolução sexual e no final da guerra do Vietnã ocorre os protestos contra os EUA:  os Estados Unidos lançam seu primeiro satélite meteorológico, e  empresa RAMAC  o primeiro computador eletrônico de disco rígido, pela empresa IBM, e em 1964 o primeiro chip de computador ; em  abril de 1961, o russo Yuri Gagarin torna-se o primeiro homem a ir aos espaço e esse fato torna-se mais tarde o estopim da corrida espacial, disputada entre os rivais URSS e EUA que acaba levando em 1969, segundo a história, o homem à lua na Apollo 11 ; em 1967 é lançado nos cinemas  a série “ 2001, uma odisseia no espaço”. ; ocorre na África do sul, o primeiro transplante de coração; em 67 a primeira transmissão de televisão via satélite e a criação do Arpanet que foi a precursora da internet e no mesmo ano lança-se o primeiro e-mail entre computadores; surge o movimento hippie os Beatles, Rolling Stones,  Pink Floyd, Led Zeppelin e outros, o rock  ganha nova roupagem e influencia o comportamento de toda uma geração de jovens, como no caso do movimento punk; em 1963 o presidente Kennedy é assassinado e em  1968, foi a vez do líder  ativista Martin Luther King; em 1961 ocorre a  construção do muro de Berlin e em 1966 tem início a revolução cultural na China; em 1961 os EUA rompe relações diplomáticas com Cuba e em 1967 começa a guerra dos seis dias entre Israel, Jordânia e Egito.

Como se pode ver, há entre os anos 60 e 70 um cenário de grandes acontecimentos que marcaram a época, como o períodos das revoluções marcantes daquele século. Então, provavelmente era de se esperar que aqueles jovens fossem bem mais politizados que os das gerações que os precederam. Logo, foram protagonistas de seu tempo. Isso significa que todos podemos ser protagonistas de nosso tempo, e o fazemos isso em respostas à pressão social imposta em forma de hostilidades e repressão, ou sem radicalismos, quando pensamos em dar um rumo às nossas vidas em formas de escolhas entre uma ou outra profissão, partindo-se sempre de projetos como: iniciar um curso técnico ou universitário, com quantos anos formar uma família, etc.

Estímulos sociais trazidos em forma de repressão às liberdades geram insatisfação, que se desdobram em rebeliões contra toda e qualquer forma de poder que tenta estabelecer opressão. Logo, sempre se levantará uma força descomunal emanada pelos oprimidos que tentará reverter a situação, revisando os costumes, e uma contra- ofensiva tentando restaurar a ordem.


No Brasil, no documentário “Escolas ocupadas” (2015), atualmente vemos os jovens também repetindo à velha estória de lutas contra o poder reacionário de quem está no comando do poder, mas diferentemente daqueles de maio 1968 na França, estes parecem ter um objetivo bem mais delineado, sendo então uma luta organizada em torno de um ideal, possuindo direção e divisão de tarefas. Assim como esses, os verdadeiros opositores serão propriamente a massa popular em forma de estudantes, classes trabalhadoras ou excluídos, que são massacrados ou duramente reprimidos, caso contestem o sistema. Dessa forma índios, negros e pobres formam a maioria dos negligenciados de seus direitos.


Como a história tem demonstrado, é provável que assim como aqueles insurretos de 68, certamente outros serão duramente punidos e terão seus planos frustrados, mas isso não significa que não se deve agir em busca de melhorias, mas de serem resilientes e aprender a aprender com os erros, tal como saber que lutar sem ideias definidos tem maior probabilidade de fracassar. É certo que muitos esperam o dia em que finalmente as lutas de classes não existirão, que o mundo seja um lugar melhor. Mas justamente esse é o problema: estamos sempre achando que temos a melhor proposta para melhorar o mundo!


Será que o simples fato de nós vivemos sempre tentando dizer o que é o melhor para o outro, não nos tornam altruístas à reversa, pensando que estamos sendo solidários uns aos outros, quando na verdade estaríamos persuadindo pessoas, delimitando ou redefinindo o poder, achando ainda que somos os porta-vozes da libertação?


Enquanto somos parte de um grupo social comum, reconhecendo-se também como parte de um organismo social injusto pode se tornar uma coisa boa, porém contendo seus riscos, pois na verdade essa é a faca de dois gumes que segrega pensando que só corta a parte podre, mas esquece que a sociedade é dinâmica e sempre aparecerá a parte descontente. Aqui vale a antiga frase de domínio público que diz que: “Não é possível agradar a todos”. Enquanto se defende um grupo, outro torna-se indefeso e logo procurará se fortalecer para a tomada do poder, ou seja, sempre aparecerá na oposição os protagonistas de um movimento contrário ao estabelecido, principalmente porque o homem sempre procurou juntar-se em semelhanças e não em diferenças. Isaac Newton já dizia em sua terceira lei da dinâmica “para cada ação de forças há uma reação, de mesmo módulo, mesma direção e sentidos opostos”, que aqui fazendo uma analogia com a dinâmica das lutas de classes , diríamos que esta lei pode ser vista acontecer nos vários processos sociais que já ocorreram no mundo: Primeiramente aparece um grupo defendendo sua ideologia, assumem o poder e deste se emanam forças de coerção para intimidar os descontentados, então surge um levante contra essa forças ( reação contrária) , de mesmo módulo ( em função de interesses em comum), mesma intensidade ( usar a força e coerção ) e de sentido contrário ( contra aqueles que estão os oprimindo).

Entre um grupo de pessoas sempre haverá adesões de ideias e consequentemente um alinhamento aos iguais, que os separarão dos que pensam diferente, e entre os diferentes sempre aparecerá uma nova partição.

Assim ocorreu, por exemplo, com o cristianismo medieval, e vemos esse fato repetir-se por toda a história da humanidade, pois o que aprendemos à respeito das civilizações? senão que houveram  várias lutas e dissidências que ocorreram desde que o homem passou a conviver em sociedades organizadas politicamente como a dos Sumérios , Egípcios, Babilônios, Assírios, Gregos, Romanos e tantas outras ?, que até mesmo nas tribais vemos isso acontecer, como nas indígenas brasileiras, que houvera dissidências do tronco comum que era a grande nação Tupi, gerando tantas outras inimigas entre si, como Gês, Tapuias, Tupinambás e muitas outras. Talvez seja um processo que não se finda, porque nunca se terá harmonização em 100% de ideias entre os homens, e para atingir o “equilíbrio” uma das partes tentará reprimir a outra coercitivamente, se caso achar necessário. Assim, temos um mundo dividido entre dicotomias: xiitas e sunitas no Oriente Médio, capitalismo e comunismo nas duas Coreias, católicos e protestantes na Irlanda do Norte etc. onde cada um tenta se estabelecer no poder.

Dessa forma sempre haverá protagonistas surgindo e ressurgindo de ambas as partes. Hoje lutamos em comum contra o terrorismo, contra os preconceitos, contra a corrupção política, enfim, contra isso ou aquilo, mas cada componente das mesmas forças que se unem contra, serão talvez as mesmas que lutarão entre si um dia.


Assim toda a história da vida do homem em sociedade fora marcada por questionamentos aos antigos regimes. Na Revolução Francesa temos um grande exemplo disso, onde os ideais de liberdade, fraternidade igualdade foram expressados contra o sistema político e econômica da França do século XVII, servindo de inspiração para as revoluções contemporâneas, como se pode até ver e ouvir nas palavras de ordem dos revolucionário da Nanterre, durante o documentário. Porém tal como na Revolução Francesa, não bastasse a coincidência de espaço e lugar, houve também a intromissão política ideológica trazida por outras correntes de pensamento que se misturaram às primeiras e conseguiram persuadir pessoas e manipular os projetos revolucionários dando nova ventilação às verdadeiras pretensões dos rebeldes.

 Exemplo disso está na própria revolução de 68, onde o poder foi, por incrível que pareça, reestruturado democraticamente, o governo fechou um acordo com o sindicato dos trabalhadores que antes estavam alinhados com os estudantes, deportou-se Daniel Conh-Bendit para a Alemanha e em pouco tempo virou o jogo. Claro que ele acabou com uma revolução, mas não com os ideais, que aliás é o xis da questão, que me fazem inspirar a dizer de própria autoria que “Ideais nunca morrerão enquanto não morrer o último dos homens, pois onde estiver um homem ali estará seu pensamento”.     

Isso nos levam a crer que somos protagonistas de fato das revoluções sociais, porém isso não significa que somos 100% livres, pois em toda a história antropocêntrica vimos que quem deseja o poder sempre se aproxima da situação revolucionária para tirar algum proveito, como ocorreu durante a Revolução Francesa em que a burguesia incitou o movimento e depois tomou à direção estabelecendo a defesa de seus interesses, estabeleceu sua hegemonia e depois o próprio  Robespierre, líder dos jacobinos que passaram a governar a França revolucionária, foi mandado para a  própria guilhotina por decisão de dissidentes do seu próprio partido, descontentes com sua liderança. Lembramos que Robespierre foi quem introduziu a condenação de seus opositores à morte na guilhotina, durante o comitê de salvação pública que o mesmo havia implantado durante o período pós-revolucionário, mediante desconfianças de tudo e de todos, durante toda a época do que a história marcara como anos de terror.  Assistindo à tudo isso, nos parece que a conclusão é que: os verdadeiros insurretos se não souberem conduzir verdadeiramente suas vidas, correrão o sério risco de se tornarem novamente “o gado a ser tangido”.


Certamente homens conduzirão suas próprias vidas, serão sempre os protagonistas das mudanças (...), mas acreditamos que a verdadeira liberdade ainda demandará tempo devido às discordâncias seculares como as ideológicas, religiosas e culturais entre as várias pessoas e nações do mundo. Mas mesmo assim, valerá ao menos a intenção de ter lutado, de ter aparecido no mundo como um agente transformador social de seu tempo, de ter semeado a boa semente, de ter sido ouvido, visto e aceitado por um grupo que lutava pelos mesmos ideais mesmo sabendo que poderia estar errado o tempo todo, por tentar demonstrar que seu pensamento era que trazia a melhor proposta para todos, como se todos fossem você (...).  É necessário sermos um ser protagonista da resistência às algúrias da vida social e desmandos daqueles que não pensam no bem comum. Enfim, vale a pena ser esse ser.

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